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Convenção de Estocolmo – Relatório científico apresentado pelo Ministério da Agricultura atualiza o estado da arte do Manejo Integrado de Formigas Cortadeiras no Brasil

 

(Stockholm Convention – Scientific report presented by the Brazilian Ministry of Agriculture updates the state of art in Integrated Management of Leaf-cutting Ants in Brazil)

 

Um relatório científico foi preparado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, com o objetivo de atualizar o estado da arte e as perspectivas do Manejo Integrado de Formigas Cortadeiras no Brasil e no mundo, um trabalho que poderá se tornar uma referência nessa importante área por muitos anos, visto a relevância das informações científicas apresentadas.

A extensa revisão bibliográfica foi desenvolvida por um grupo de consultores coordenado pelo MAPA, com objetivo de responder a uma demanda da 6ª Conferência das Partes da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, realizada na Suíça em 2013. O relatório foi entregue pelo Governo Brasileiro ao Comitê de Revisão de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPRC) da Convenção de Estocolmo em janeiro de 2016, com versões em inglês e português.

O documento se chama “REVISÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO SOBRE A VIABILIDADE DO USO DAS ALTERNATIVAS AO PFOS, SEUS SAIS E PFOSF, NO CONTROLE DAS FORMIGAS CORTADEIRAS ATTA E ACROMYRMEX DENTRO DE UMA ABORDAGEM DE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS”, possui 13 capítulos acrescidos de 700 referências bibliográficas, num total de 218 páginas, com texto detalhado e quase sempre de fácil compreensão, que discorre com clareza sobre os vários métodos mecânicos, culturais, biológicos e químicos que têm sido estudados desde o início dos anos 50 para o controle de formigas cortadeiras, no Brasil, no Mercosul e em outros países.

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UNEP-POPS-POPRC11FU-SUBM-PFOS-Brazil-2-20160108.ENG
Clique nas figuras para acessar o relatório no site da Convenção de Estocolmo
(link acessado em 22/05/2016).

 

 

Esse relatório técnico está em avaliação pela Convenção de Estocolmo, da qual o Brasil é Parte signatária, em função do acordo mundial firmado para o banimento completo de 23 substâncias listadas como Poluentes Orgânicos Persistentes-POP pela Convenção, entre elas a molécula química Sulfluramida, usada na América Latina como inseticida no controle de baratas e formigas. Desde 2009 tramita na Convenção o pedido do Brasil para manter como uma “exceção específica” o uso da Sulfluramida no país, para a produção de iscas formicidas para o controle de formigas cortadeiras Atta spp. e Acromyrmex ssp., nossas conhecidas velhas conhecidas as sáuvas e quenquéns.

Esse pedido brasileiro é reavaliado a cada 4 anos pela Convenção e, durante esse processo, o Governo Federal assumiu o Plano Nacional de Implementação da Convenção de Estocolmo no Brasil, documento elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente e apresentado oficialmente na 20ª Convenção das Partes em 2015. Nesse Plano, foi realizado o Inventário Nacional do uso de iscas formicidas à base de Sulfluramida e definidos os objetivos de alcançar a proibição de qualquer uso da Sulfluramida no Brasil, meta que o setor agropecuário nacional não acredita ser possível atingir nos próximos anos, conforme é justificado no documento recém elaborado pelos cientistas e apresentado pelo MAPA para análise técnica pelo Secretariado da Convenção da Partes.

PIN_Estocolmo_MMA_2015Clique na figura para acessar o documento no site do Ministério do Meio Ambiente

(link acessado em 22/05/2016).

 

Os dois primeiros capítulos do relatório merecem destaque próprio, são cerca de 30 páginas trazendo as mais atualizadas referências científicas sobre a história natural das formigas cortadeiras e os danos agroflorestais provocados por elas, incluindo a distribuição geográfica das diferentes espécies dessas formigas, sua biologia, os processos de fundação dos ninhos e organização social, a construção e arquitetura de ninhos em saúvas e quenquéns, sendo ressaltado na conclusão que “o conhecimento básico gerado sobre a história natural das formigas cortadeiras nos auxilia a entender melhor como as táticas de controle podem ser ou não eficazes”.

 

 

Os demais capítulos são dedicados a analisar o histórico e atualidades dos mais diversos métodos de controle e de manejo integrado de cortadeiras já testados pela pesquisa científica, avaliando técnicas de controle químico, biológico, físico, manejo integrado e métodos alternativos. Para avaliar a viabilidade do uso das alternativas, foram comentados e discutidos os critérios estabelecidos pela Convenção de Estocolmo, que são: viabilidade técnica, efeitos para o homem e o meio ambiente, custo/benefício, eficácia, disponibilidade e viabilidade.

A conclusão do estudo, corroborando a posição da delegação brasileira na Convenção de Estocolmo, afirma que “à luz do conhecimento atual, acredita-se que o futuro do controle de formigas cortadeiras continuará sendo exclusivamente químico e a formulação comercializada será a isca tóxica, devido às limitações de outras formulações. A visão atual do Manejo Integrado de formigas cortadeiras é simplesmente o uso racional do controle com iscas tóxicas, muito distante da abordagem ideal do MIP, e se aproxima mais das idéias de controle supervisionado da década de 1940. Essa abordagem não é necessariamente ruim, pois deve-se encorajar o uso criterioso do controle químico, mas devemos fazer planos para o futuro para viabilizar a possibilidade de controlar formigas cortadeiras dentro da visão do MIP e abordar métodos de estudo eficientes e inovadores para melhor compreender os mecanismos que permitem um método de controle ser eficiente”.

Esse importante estudo realizado pelo MAPA foi apresentado e discutido no “Seminário sobre a viabilidade do uso das alternativas à Sulfluramida no controle das formigas cortadeiras Atta e Acromyrmex”, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA em março de 2016. O evento contou com a participação de diversos parceiros envolvidos no tema, incluindo representantes do Governo, do Comitê de Revisão de Poluentes Orgânicos Persistentes-POPRC da Convenção de Esctocolmo, da sociedade civil, da indústria produtora de iscas formicidas, do setor de plantações florestais, e de consultores e pesquisadores que trabalham com controle de formigas, com monitoramento de POPs e avaliação do comportamento ambiental da sulfluramida PFOS. Infelizmente as palestras e anais do evento não estão disponíveis para acesso pela internet.

Uma crítica ao relatório debatida no Seminário é o seu foco preponderante na situação e perspectivas do setor de florestas plantadas brasileiro, principal usuário das iscas formicidas a base de Sulfluramida do mundo, em detrimento da discussão para o desenvolvimento de alternativas para os demais setores da agricultura e pecuária, com suas 5,5 milhões de propriedades, da proteção das áreas em recuperação ambiental, do ajardinamento e urbanismo, da manutenção de obras de infra-estrutura e outros setores afetados por esse grupo de insetos-praga. A demanda por informações atualizadas sobre controle integrado por parte de produtores e de técnicos de campo foi debatida na palestra “Princípios para o manejo integrado de áreas infestadas por formigas cortadeiras na agropecuária, recuperação ambiental e manutenção de áreas verdes”, do agrônomo Dalembert Jaccoud, a convite da Fundação de Desenvolvimento Rural do DF.

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Pela importância desse tema, essa avaliação oficial sobre “a viabilidade do uso das alternativas no controle das formigas cortadeiras dentro de uma abordagem de manejo integrado de pragas” é um documento que reúne informações técnicas cuja divulgação poderia ter grande importância para todos as pessoas que trabalham com educação, pesquisa e assistência técnica  envolvendo as formigas cortadeiras,  nos meios urbanos e rurais do país.

Frente aos compromissos assumidos pelo país na Convenção de Estocolmo, as ações de controle de saúvas e quenquéns terão que ser inovadas em breve, em função da substituição dessa conhecida tecnologia por outras que ainda não estão desenvolvidas. Para que as pessoas venham a inovar no manejo dessa praga, talvez o maior desafio seja a educação das pessoas, tema que recebeu pouca ou  nenhuma atenção nesse relatório oficial. Sua divulgação no ensino profissional das áreas agrárias e biológicas, e dessas pessoas a divulgação da informação para os agricultores e outros trabalhadores envolvidos, seria um grande benefício na  preparação da sociedade para as mudanças previsíveis que terão validade nacional nos próximos anos.